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sábado, 19 de abril de 2014

O direito de ser feliz


Uma vida cheia de amor não pode ser infeliz.

Há alguns dias li a história de uma mulher que lutou com todos os seus esforços para proteger judeus em sua casa durante a Segunda Guerra Mundial. Em tempos de paz, ela se dedicava, entre outras coisas, ao cuidado de pessoas que sofriam de deficiências mentais. Porém, quando uma grande leva de judeus começou a fugir da Alemanha para buscar abrigo em seu país, a Holanda, essa mulher passou a ter como seu principal objetivo de vida a ajuda aos perseguidos pelo nazismo.

O custo foi alto. Dias e dias se passavam e a preocupação de ser presa a perseguia. Um quarto secreto foi construído em sua casa para abrigar seus amigos judeus, porém, ela mesma estava desprotegida. Todos os seus vizinhos já tinham conhecimento de sua “atividade clandestina”, e era questão de tempo até que a Gestapo, polícia secreta nazista, batesse à (ou arrombasse) sua porta. Até que o triste dia chegou.

Corrie – como costumavam chamá-la – foi presa, depois levada a um campo de concentração. Finalmente, foi transportada junto com centenas de outras mulheres em velhos vagões de trem até o temido campo de extermínio de Ravensbruck, na Alemanha. Mas o ponto alto dessa história é que, a despeito dos indizíveis sofrimentos que viveu, Corrie encontrou maneiras de demonstrar amor em todos os lugares por onde passou.

Por providência divina ela foi liberta do campo de extermínio, dias antes de todas as mulheres de sua idade serem levadas à câmara de gás. Após o fim da guerra, com seu país livre da opressão do inimigo, poderia ela correr atrás unicamente de seus interesses pessoais e buscar reconstruir sua vida? Sim, com certeza. Nada mais justo. Contudo, para quem foi capaz de amar em meio às mais densas trevas de sua existência, impossível seria viver de outra maneira quando a luz do sol despontasse.

Corrie ten Boom dedicou-se a cuidar de pessoas e encorajá-las a vencer seus próprios medos. Incontáveis são as pessoas que foram confortadas por suas palestras, e sua história ainda provoca lágrimas aos leitores de seus livros; lágrimas de consolo.     

Após a leitura, pensei no grave contraste entre as motivações da Corrie e o nosso modo de viver do Século XXI. Quando penso na filosofia popular que reza: “o importante é ser feliz”, fico imaginando se os ávidos buscadores da felicidade efetivamente a encontram. Nos nossos dias, se eu “não estou feliz”, posso quebrar contratos, faltar com a palavra e abandonar relacionamentos duradouros, sob a única justificativa de que “eu tenho o direito de ser feliz”. No entanto, frequentemente ocorre o paradoxo de que a felicidade parece fugir de quem a busca. E como agarrá-la?

Talvez possamos encontrar um meio de fazê-lo ao pensarmos ao contrário dos nossos instintos. Explico: se estamos com fome, comemos. É instintivo. Nosso estômago está vazio e precisa ser preenchido com algum alimento saudável. Porém, quando o assunto é felicidade, penso que o caminho é inverso: se o nosso coração tem fome de felicidade, ele só pode ser saciado quando se esvaziar.  

Devemos esvaziar a nossa alma de tanta coisa boa acumulada e que não está sendo útil a ninguém. Há tanta gente cheia de amor que não dedica esse amor a seu próximo... Muitos têm vasto conhecimento, mas somente o empregam na busca de seus objetivos egoístas. Outros têm recursos financeiros, mas somente acumulam para que possam ter mais.


Acredito que a nossa felicidade virá somente quando nos esquecermos um pouco dela para nos lembrarmos do nosso próximo. A Corrie pôs esse princípio em prática, e se nós também o fizermos, vamos constatar que uma vida cheia de amor não pode ser infeliz.

2 comentários:

  1. Que historia, isso é amor, é entrega, é viver!!
    Amei seu blog, agora seguindo sempre :)

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    1. Pois é, Peu, a história dela é incrível! Grato por sua visita ao meu blog! Abraço!

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