Páginas

terça-feira, 3 de junho de 2014

Vontade de crescer



O aperfeiçoamento pessoal é uma das grandes motivações dos nossos dias. Quando se consideram as crescentes exigências do mercado de trabalho, então, torna-se quase obrigatório se esforçar para ser uma pessoa mais produtiva, mais capaz. Ler bons livros, fazer algum curso, aprender uma nova palavra em inglês – tudo vale a pena se a vontade de ser uma pessoa melhor não é pequena.
Mas, o que é ser uma pessoa melhor?
Naturalmente, o tempo está sempre passando. Enquanto isso, as pessoas mudam sem que possam evitar a própria mudança. Nós não somos agora quem seremos daqui a um ano. É como se todos estivéssemos sendo levados por um rio e, sem percebermos, já nos encontramos em outro lugar. Conscientes disso ou não, borbulha dentro de nós uma vontade de evoluir, de crescer; só não sabemos como. Nessa busca, acabamos nos convencendo de que “ter mais” é igual a ser uma pessoa melhor.
Funciona assim: se eu fiz um curso de computação no último mês, concluo que sou melhor do que era antes do curso, visto que agora tenho mais conhecimento. Se o meu salário aumentou na última semana, logo sou uma pessoa melhor agora, porque tenho mais dinheiro. Está dando para perceber por esses exemplos? “Ter mais” conhecimento, mais dinheiro, mais status social... Parece ser esse o caminho. Contudo, às vezes penso que o caminho, mesmo, é compartilhar o que se tem.
A ideia é a seguinte: quando temos mais, apenas temos mais. Porém, quando compartilhamos o que temos, aí é que somos pessoas melhores. A prova de que me tornei uma pessoa melhor é que me tornei melhor para o próximo.

Talvez você não tenha tanto dinheiro agora quanto sonhou que teria ao fazer seus cálculos doze meses atrás. Talvez você não tenha tido tempo de fazer nenhum curso no último ano; ou, quem sabe, não tenha lido tantos livros quantos pretendia. Entretanto, se decidiu compartilhar com alguém o que já tinha (conhecimento, tempo, carinho, até mesmo money), então você realmente cresceu. Quem compartilha se arrisca a ter menos para ser mais. Mas, será que vale a pena? Repito: tudo vale a pena se a vontade de ser uma pessoa melhor não é pequena.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Silêncio que cura

Muitas vezes nos deparamos com pessoas que nos contam seus problemas e não sabemos o que dizer. Cada um é que sabe a dor do próprio coração, por isso, temos dificuldade para alcançar uma noção real do sofrimento de outra pessoa. Buscar palavras, nessa hora, não é fácil, mas não encontrá-las pode ser até melhor.

Já aconteceu de algum amigo desabafar aos seus ouvidos sobre uma dificuldade e, no final, ele te perguntar: “Você entende o que eu estou passando?” Quando isso acontece comigo e eu respondo que sim, me dá uma sensação de não estar dizendo a verdade. “Sim, eu entendo”, digo a mim mesmo no pensamento, “mas não compreendo”. Como dizer algo útil desse jeito?

Uma das tarefas mais difíceis ao se aconselhar uma pessoa é colocar-se no lugar dela. Podemos até entender o quanto é duro passar por tudo aquilo, mas, compreender... Compreender é conter em si, é trazer para dentro do próprio coração a dor do outro. É chorar junto. É entrar na chuva para se molhar. É arriscar-se a sofrer, também.

Colocar-se no lugar do outro é, também, abrir mão do desejo de contar com detalhes como foi a última viagem que você fez, apenas para ficar em silêncio e ouvir. Ouvir até aquela torrente de palavras carregadas de emoção terminar. Frequentemente, é não ter nem a chance de dar aquele superconselho que, na nossa cabeça, seria a solução para os problemas do nosso amigo. O amigo só precisa ser ouvido e, depois, vai embora. Você pode nem perceber nas o começo da solução do problema alheio se dá no momento em que paramos para ouvir.


Quantas vezes nós mesmos nos sentimos revigorados quando alguém nos deu atenção por um bom tempo. Retribuir esse favor, ainda que não seja à mesma pessoa que nos deu ouvidos, pode contribuir com a construção de uma sociedade mais saudável, mais leve. Talvez sejamos até incapazes de compreender plenamente a dor do outro, mas podemos fazer-lhe saber que entendemos o quanto nos importamos. Podemos não encontrar palavras, mas desconfio que um pouco de silêncio e ouvidos atentos fizeram mais pela humanidade do que muitas descobertas da medicina. 

sábado, 19 de abril de 2014

O direito de ser feliz


Uma vida cheia de amor não pode ser infeliz.

Há alguns dias li a história de uma mulher que lutou com todos os seus esforços para proteger judeus em sua casa durante a Segunda Guerra Mundial. Em tempos de paz, ela se dedicava, entre outras coisas, ao cuidado de pessoas que sofriam de deficiências mentais. Porém, quando uma grande leva de judeus começou a fugir da Alemanha para buscar abrigo em seu país, a Holanda, essa mulher passou a ter como seu principal objetivo de vida a ajuda aos perseguidos pelo nazismo.

O custo foi alto. Dias e dias se passavam e a preocupação de ser presa a perseguia. Um quarto secreto foi construído em sua casa para abrigar seus amigos judeus, porém, ela mesma estava desprotegida. Todos os seus vizinhos já tinham conhecimento de sua “atividade clandestina”, e era questão de tempo até que a Gestapo, polícia secreta nazista, batesse à (ou arrombasse) sua porta. Até que o triste dia chegou.

Corrie – como costumavam chamá-la – foi presa, depois levada a um campo de concentração. Finalmente, foi transportada junto com centenas de outras mulheres em velhos vagões de trem até o temido campo de extermínio de Ravensbruck, na Alemanha. Mas o ponto alto dessa história é que, a despeito dos indizíveis sofrimentos que viveu, Corrie encontrou maneiras de demonstrar amor em todos os lugares por onde passou.

Por providência divina ela foi liberta do campo de extermínio, dias antes de todas as mulheres de sua idade serem levadas à câmara de gás. Após o fim da guerra, com seu país livre da opressão do inimigo, poderia ela correr atrás unicamente de seus interesses pessoais e buscar reconstruir sua vida? Sim, com certeza. Nada mais justo. Contudo, para quem foi capaz de amar em meio às mais densas trevas de sua existência, impossível seria viver de outra maneira quando a luz do sol despontasse.

Corrie ten Boom dedicou-se a cuidar de pessoas e encorajá-las a vencer seus próprios medos. Incontáveis são as pessoas que foram confortadas por suas palestras, e sua história ainda provoca lágrimas aos leitores de seus livros; lágrimas de consolo.     

Após a leitura, pensei no grave contraste entre as motivações da Corrie e o nosso modo de viver do Século XXI. Quando penso na filosofia popular que reza: “o importante é ser feliz”, fico imaginando se os ávidos buscadores da felicidade efetivamente a encontram. Nos nossos dias, se eu “não estou feliz”, posso quebrar contratos, faltar com a palavra e abandonar relacionamentos duradouros, sob a única justificativa de que “eu tenho o direito de ser feliz”. No entanto, frequentemente ocorre o paradoxo de que a felicidade parece fugir de quem a busca. E como agarrá-la?

Talvez possamos encontrar um meio de fazê-lo ao pensarmos ao contrário dos nossos instintos. Explico: se estamos com fome, comemos. É instintivo. Nosso estômago está vazio e precisa ser preenchido com algum alimento saudável. Porém, quando o assunto é felicidade, penso que o caminho é inverso: se o nosso coração tem fome de felicidade, ele só pode ser saciado quando se esvaziar.  

Devemos esvaziar a nossa alma de tanta coisa boa acumulada e que não está sendo útil a ninguém. Há tanta gente cheia de amor que não dedica esse amor a seu próximo... Muitos têm vasto conhecimento, mas somente o empregam na busca de seus objetivos egoístas. Outros têm recursos financeiros, mas somente acumulam para que possam ter mais.


Acredito que a nossa felicidade virá somente quando nos esquecermos um pouco dela para nos lembrarmos do nosso próximo. A Corrie pôs esse princípio em prática, e se nós também o fizermos, vamos constatar que uma vida cheia de amor não pode ser infeliz.

domingo, 30 de março de 2014

O Teste do Tempo


Todo ser humano que caminha sobre este planeta é submetido a diferentes tipos de testes. Um dos mais comuns é o Teste do Tempo. O que chamo de Teste do Tempo é o espaço temporal que existe entre o surgimento do nosso desejo e a sua satisfação. É inevitável: a maioria das coisas que realmente têm valor neste mundo exige tempo para ser conquistada.

Com o avanço da tecnologia, parece que temos nos acostumado a satisfazer nossas vontades rapidamente. O controle remoto nos faz trocar de canal a cada segundo. O forno microondas acelera o fim do nosso apetite. Os meios de transporte nos fazem atravessar grandes distâncias cada vez mais rapidamente. Para falar com alguém, não precisamos nos deslocar nem sequer alguns metros... É só usar o WhatsApp. Com todas essas facilidades, somos levados a pensar que tudo na vida pode ser alcançado facilmente, o que não é verdade.   

Saltar etapas não é opção para quem pretende alcançar vitórias duradouras. Não dá para chegar à faculdade sem cursar o Ensino Médio, mesmo fazendo supletivo. Não dá para viver em paz junto à família sem levar um bom tempo lutando contra a própria natureza para alcançar uma boa convivência. A espera perpassa todas as fases do processo, e é parte importante para a construção do nosso caráter. Acontece que, às vezes, já temos feito todo o necessário, mas aquilo que queremos simplesmente não se faz real. O que fazer para dar um fim nessa sensação de não estar produzindo nada, de estar passando por um tempo inútil?

Para começar, devemos nos lembrar que tempo algum é inútil, ainda que não estejamos realizando nada concreto. O apóstolo São Paulo era um homem muito ativo e devia ser insuportável para ele imaginar a si mesmo sem realizar obras para Deus. No entanto, em muitas ocasiões ele foi preso injustamente, o que o forçava a passar longos períodos sem realizar tudo o que queria, ou, mesmo, cuidar das pessoas que amava. Apesar disso, ele aproveitou o tempo em que esteve preso e escreveu cartas para dar instruções e fornecer consolo aos seus amigos. Essas cartas são lidas até hoje e fornecem instrução e consolo para milhões de pessoas no mundo inteiro.  

A exemplo de Paulo, podemos tornar útil o nosso tempo de espera a partir do momento em que decidirmos esperar ativamente, realizando algo que esteja ao nosso alcance. Se já fizemos tudo o que podíamos por uma causa, podemos fazer algo por outra causa. Há sempre alguém precisando de uma palavra de conforto ou uma mão amiga.

Enquanto esperamos, não devemos nos exasperar. Tornar-se irritadiço ou amargo não contribui em nada – pode crer. A paciência é a virtude mais abundante nos vitoriosos, mas, ao mesmo tempo, a menos evidente. Atribuem ao meu xará Isaac Newton a seguinte frase: “Se fiz descobertas valiosas, foi mais por ter paciência do que por qualquer outro talento”.

Finalmente, saber esperar é não desistir por causa da demora. Desistindo, você não apenas não alcança o que pretende, como desperdiça o seu tempo e toda a dedicação empregada. O Teste do Tempo não é fácil, mas os testes existem para que nós sejamos aprovados.  Então, tenha paciência, pois é certo o que disseram: “O que vale a pena possuir, vale a pena esperar”.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

O homem da fazenda

Ficheiro:Caipira picando fumo.jpgExistem pessoas que nos inspiram a ser melhores. Pessoas que demonstram, com seu modo de viver, um caráter tal que nos faz, de alguma maneira, querer ser como elas. Eu sou adepto da ideia de que é melhor aprender com as experiências dos outros do que ter que sentir na pele todo tipo de sofrimento para, só então, obter algum aprendizado. Por isso, procuro observar a vida de grandes mulheres e homens, através de leituras ou pessoalmente, para buscar ser uma pessoa mais apta a lidar com as surpresas agradáveis e também as desagradáveis da existência.

É interessante notar, ao observar essas pessoas, que pequenas coisas podem se tornar grandes lições. Certa vez, eu tinha uma enorme tarefa a fazer e não sabia por onde começar. Só de pensar no quanto teria que me esforçar para realizar aquilo, me dava um desânimo. Não era algo divertido de se fazer. Levaria tempo. Eu já estava até querendo desistir antes de começar.

Foi quando fui a uma pequena fazenda e observei que um homem tinha feito enormes escavações, sozinho, na tentativa de reter água da chuva em sua roça. Eram valetas enormes que qualquer pessoa pensaria terem sido feitas por um trator. Mas aquele homem tinha realizado aquele trabalho hercúleo apenas com ferramentas simples: uma pá, um cavador e uma alavanca. Também utilizou um carrinho de mão para transportar a terra para fora daquela cratera que havia criado. Era um trabalho bem feito e, quando a chuva viesse, possivelmente muita água ficaria retida ali, para a alegria daquele trabalhador.  

Olhei para mim mesmo e pensei: “Eu tenho uma grande tarefa a fazer, mas não se compara a isto que estou vendo. Ele deve ter levado muitas semanas trabalhando incansavelmente, num extremado esforço físico, nesta atividade que, pelo que vejo, não parece ser das mais prazerosas. Qual será o seu segredo para não desistir antes mesmo de começar?” É claro que não fiquei apenas pensando, mas, logo perguntei a ele qual era o segredo.

Dando uma pequena pausa em seu trabalho, pois continuava a retirar pedras do local, me respondeu como se fosse algo muito simples – e era. Ele me disse, de maneira muito natural, que fazia uma parte de cada vez. Procurava não pensar na grandeza da obra como um todo, mas na parte que lhe cabia fazer em cada dia. Assim, pouco a pouco, com persistência, depois de um tempo era só olhar para trás e ver que muito já havia sido feito.

Essa dica me motivou muito, e a tarefa que eu tinha para realizar foi concluída, semanas depois, baseada na sabedoria daquele homem simples. Confesso que é muito mais difícil na prática: a persistência exige uma boa dose de motivação diária. No entanto, eu não poderia ter obtido um resultado satisfatório a não ser que tivesse dado ouvidos àquele conselho, e quero levá-lo por toda a vida.

Essa história que narrei não conta todas as outras experiências que vivi com aquele mesmo homem da fazenda. Muitas, mas muitas outras lições eu aprendi, e tenho aprendido com ele, porque ele é uma dessas pessoas cujo caráter nos faz querer ser como elas. Esse homem é o meu pai. Sou extremamente grato a Deus pela vida dele.


Bons exemplos são raros hoje em dia, pelo menos é o que temos ouvido as pessoas dizerem. Mas eles existem. São homens e mulheres imperfeitos que se esforçam para ser o melhor que puderem para o bem dos outros e por sua própria consciência. Que haja mais dessas pessoas que nos inspiram a ser melhores! E que bom será se, um dia, eu e você, leitor, nos tornarmos como aqueles de cujas vidas se possam extrair lições – como o homem da fazenda. 

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Sonhadores incorrigíveis


Frustração. Todo mundo já passou por isso. Quanto maiores as expectativas em relação a um sonho, maior a frustração caso o sonho não se realize. E que gosto amargo tem a sobremesa que não veio. Poderia ter gosto de nada, mas tem gosto amargo.

O caminho da frustração começa da seguinte maneira: num belo dia, você tem um sonho. Daí em diante, vai alimentar esse sonho em seu coração e buscar possibilidades de realizá-lo. Começa, então, a trabalhar pelo sonho, seja estudando muito, se esforçando muito mais no trabalho ou insistindo em demonstrar o seu amor a alguém que não corresponde. O tempo passa, mas sua motivação é maior. Os obstáculos surgem, mas eles não te desanimam. Sua determinação é inabalável. Até que... a casa cai: você não passa no concurso, é despedido, ou ouve um “não quero namorar você, vamos ser só amigos”. O chão desaparece, a tristeza se estabelece e a gente não sabe mais o que esperar da vida. Frustração.

O que fazer quando aquilo pelo que lutamos simplesmente não se realiza? Ainda mais quando é algo tão natural, como ter um filho... “Por que todo mundo pode ter e eu não?” Somente quem ainda não alcançou aquilo que tanto se almeja sabe o quanto realmente vale a realização do sonho. E não adianta nos dar um tapinha nas costas e dizer “não fica assim, não. Vai dar tudo certo...”, porque já não está dando tudo certo coisa nenhuma! E a frustração vem e se destila em lágrimas...

Longe de querer oferecer uma fórmula para sair da frustração, quero apenas me assentar na assembléia dos frustrados anônimos e compartilhar que, enquanto escrevo estas linhas, sinto o mesmo sabor de sobremesa que não veio. Como sair dessa? Não sei dizer. Mas intuo que me revoltar e destruir tudo o que construí não deve ser a solução. É difícil enxergar, mas ainda há muita coisa boa acontecendo neste mesmo momento e não nos damos conta.

Neste exercício de combate à frustração, podemos buscar, com um pouco de esforço, coisas pelas quais poderíamos agradecer. O sonho pode ter virado fumaça, mas a comida ainda está na mesa, ainda temos o que vestir e pessoas para amar. Por que não agradecer? Não vai doer dizer obrigado.

Outra atitude seria entender que, se o que queríamos não se concretizou, pelo menos aprendemos algo com tudo isso. Esse aprendizado pode nos levar a grandes conquistas futuras. Podemos, também, valorizar o que já conseguimos: não é porque faltou dinheiro para terminar de construir a casa que as paredes erguidas não têm valor – não devemos derrubá-las. É melhor arejar a cabeça, pensando em outras coisas por um tempo, até que tenhamos recobrado forças para terminar a obra.

Nessas horas, quem exercita a fé tem uma vantagem: pode contar com Alguém além dos amigos. A verdadeira prática da fé não prejudica a ninguém, mas fornece uma força extra àquele que a ela se dedica. Um lembrete: é covardia culpar ao Ser Superior pelos seus problemas, quando você mesmo não tem coragem de assumir sua parcela de culpa no processo. Assuma seus erros e exercite a fé. Ainda que a esperança tenha sido a última a morrer, e efetivamente tenha morrido, a fé renasce como a fênix.    


Dias vêm, dias vão, e a dor vai ficando mais suportável. O prazer de viver está apenas escondido atrás das nuvens escuras, mas está lá. Certa hora a chuva vai passar, e os primeiros raios de sol surgirão com novos sonhos. E se der tudo errado outra vez? Pode ser que eu me decepcione, mas também pode ser que eu me realize! Não vou deixar o medo me paralisar. A fé sussurra em nosso ouvido que o melhor ainda está a caminho. Somos sonhadores incorrigíveis... Posso ter me frustrado, mas não consigo deixar de crer que, amanhã, ou depois, a sobremesa ainda virá, mais saborosa do que sonhei.  

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Mudar os outros



É muito ruim conviver com pessoas chatas. Tem gente que é insuportável, não é mesmo? Sempre têm uma coisa negativa pra dizer, sempre reclamando do clima, da roupa, do ar, da comida... Pessoas irritantes assim deveriam mudar! Falam mal dos outros pelas costas, são arrogantes, prepotentes. Eu não suporto pessoas assim, mas acontece que eu vivo sempre cercado delas!  Acho que me falta entender que a razão disso é que o verdadeiro chato, irritante, arrogante e prepotente sou eu.

Todo mundo tem o seu dia para acordar de mau humor. Sabe aquela vez que você teve que comparecer ao casamento da sua amiga na noite anterior e foi obrigada a ficar até o final da festa? Ninguém perguntou se você teria que trabalhar no outro dia! Sua amiga insistiu que você não deveria ir embora até partirem o bolo, só que as horas passam e o bendito bolo não é servido. Lá para as duas da madrugada, finalmente partem o bolo, mas a festa não acabou: faltam as fotos! Quando você finalmente consegue chegar em casa, já são umas quatro da manhã. Então você acorda para ir ao trabalho com aquele mau humor, que quando alguém te diz “bom dia”, a vontade é de responder com um “não enche”...

Se você já passou por isso, não tem problema. Ter um dia ruim de vez em quando é normal. A gente fica meio insuportável nesses momentos. No entanto, fazer do nosso dia a dia uma caçada aos defeitos dos outros, buscando insistentemente razões para acreditar que todos à nossa volta são irritantes, não parece bom. Se todos à minha volta são chatos, o que me faz acreditar que eu sou a exceção?

    Muito frequentemente, a maneira que as pessoas nos tratam é uma resposta à maneira como as tratamos. Contudo, é difícil fazer uma autoanálise acurada para saber se o meu jeito de lidar com o próximo é apropriado. Existem lances num jogo de futebol que só podem ser vistos da arquibancada. Ou seja, existem defeitos em nós que só os outros enxergam. A dica é: se todo mundo te trata mal, algo está errado com você.

Eckhart Tolle, escritor norte-americano, afirma que “aquilo que nós achamos mais irritante nos outros é, na verdade, um indicador daquilo que nós achamos (inconscientemente) mais irritante em nós mesmos”. Logo, se o que mais me irrita nos outros é a arrogância, provavelmente o indivíduo mais arrogante que conheço é aquele que eu vejo no espelho todas as manhãs. Difícil admitir isso, não é? Mas o reconhecimento de um defeito pode ser a primeira etapa de uma mudança para melhor.

Nem sempre é assim, mas, não raro, o ambiente em que nós vivemos reflete as nossas atitudes. Experimente ser alguém mais tolerante e você vai perceber mais tolerância nas pessoas à sua volta. Isso acontece, também, se você acrescenta o amor, o perdão, a gentileza... “gentileza gera gentileza”, já dizia o profeta. E quem sabe esse círculo vicioso, essa roda viva do bem não carregue o mau humor pra lá...

Seria bem mais fácil se todo mundo, de repente, mudasse para melhor. Mas, como isso não acontece, só nos resta mudarmos a nós mesmos. Dá trabalho, mas, também, dá muitas alegrias. E, com um pouco de paciência, pode se tornar realidade o conselho do Pensador: “muda, que quando a gente muda o mundo muda com a gente”.      

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Desejo infinito - satisfação eterna



Todos nós desejamos satisfação pessoal. É uma vontade constante de conquistar novas vitórias, comprar mais sapatos, realizar mais viagens. A gente pode até dizer: “quando eu fizer aquela viagem de férias, vou ficar satisfeito”. No entanto, antes de voltar das férias, já estamos planejando como será a próxima viagem. Nosso coração é insaciável por novas conquistas. Tem gente que mal começou uma faculdade, já está pensando em fazer mais dois cursos superiores depois de concluir o atual. Outras pessoas têm tanto dinheiro que não precisariam mais trabalhar. Apesar disso, continuam se dedicando a grandes empreendimentos. Mas, e daí? Há algum problema nisso?

Acho que não. É totalmente natural querer mais sensações, experiências, bens materiais. Não acredito que essa “fome” seja ruim. Verdade é que alguns se perdem na busca por satisfação. Procuram atalhos para chegar logo à realização dos sonhos deixando, porém, a ética e o bom senso de lado. Mas o meu ponto neste texto é o seguinte: talvez, esse desejo constante por satisfação pessoal sinalize algo maior, transcendente, eterno.

Para tratar disso, quero falar de um conflito que comumente enfrentamos: o fato de que nossos pensamentos podem infinitamente mais que nós mesmos. Quem nunca sonhou, algum dia, que estava voando? Não era uma sensação maravilhosa? A gente chega até a acreditar que realmente voa, e parece tão natural voar por aí... Até que o despertador toca e acabou a festa! Temos que caminhar, pegar ônibus, dirigir, mas nada de voar. Seria tão mais fácil ir ao trabalho voando, como no sonho... Nessas horas a diferença entre a “realidade” do sonho e a “realidade realidade” é gritante. Poderíamos, portanto, fazer um esforço para perceber uma mensagem que há por trás disso.  

Os nossos pensamentos podem tudo. Quando buscamos por satisfação pessoal, sempre nos deparamos com barreiras, impossibilidades e falta de recursos. Mas, quando sonhamos, os recursos são infinitos, e as barreiras são todas transponíveis. E o que isso demonstra? Que os nossos desejos insaciáveis e os nossos sonhos sinalizam uma realização plena que existe de fato, mas está além. Acredito que aqui, em nossa existência sobre a Terra, todas as tentativas de satisfação plena são apenas paliativas, a não ser que se busque um relacionamento com algo que transcenda tanto o pensamento quanto a realidade.

A pergunta inevitável: o que é esse “algo”? Suponho que o maior sinal de sua existência seja a sua falta. Se você parar para realmente pensar no sentido da vida, em algum lugar dentro de si, vai se deparar com um imenso outdoor onde estará escrito: FALTA ALGUMA COISA. Ora, aquilo que não está lá, existe em algum outro lugar. Nesse sentido, tenho algumas dicas para aqueles que se interessam em encontrar esse “algo” que falta.

Primeiro, não faz sentido acreditar que todos os caminhos levem a um bom lugar. Existe um Caminho de Verdade para se achar Vida. E ninguém se satisfaz a não ser por ele. Segundo, esta é uma jornada individual – ninguém pode fazer por você. Terceiro, talvez a questão não seja “encontrar algo”, mas deixar-se encontrar por Ele. Quem sabe Ele te encontre por meio de uma prece sincera, ou através de um livro que está sempre aberto na estante da sua casa, mas ninguém lê.     


Enfim, enquanto os dias passam, nossa fome continua. Nada que possamos conquistar nos provê contentamento tal que não desejemos algo mais. Logo, resta-nos entender que um desejo infinito só pode ser satisfeito por alguém Infinito. E esta compreensão é o primeiro passo para se alcançar a satisfação maior, transcendente, eterna.