Páginas

domingo, 29 de setembro de 2013

Não somos nada sem os outros


 

Certo dia, aproveitei um feriado para ir à roça. Fui com minha namorada e nos divertimos muito fazendo trilhas e subindo morros. Depois de termos caminhado bastante, já estávamos um pouco cansados. Foi quando eu vi o meu pai, que tem 62 anos, carregando um feixe de folhas de coqueiro que ele usaria para construir uma cabana. Então, não sei se por generosidade ou por uma vontade de provar que era forte, me ofereci para carregar aquele feixe de mais de 2m de comprimento. Imaginei que seria fácil – afinal, eram só folhas. Mas foi aí que começou a minha via crucis

A missão era a seguinte: carregar aquele molho de talos de folhas de coqueiro por uma ladeira de meio quilômetro, até chegar à casa mais próxima. Acompanhado de minha namorada, vi naquilo uma oportunidade de mostrar-lhe o quanto ela tinha sorte de ter um homem forte como eu ao seu lado.  Postura de Schwarzenegger, feixe nas costas, lá vou eu passo a passo sob o sol de meio-dia. Não demorou, porém, para eu descobrir que o limite da minha força era bem aquém do que imaginava.

Alguns metros depois do início daquela caminhada, o peso das folhas foi ficando cada vez maior. Estranhamente, o sol parecia mais forte. A ladeira parecia não acabar mais (e olha que eu não tinha percorrido nem um quinto do percurso!). Isso me fez pensar nas pessoas à minha volta que enfrentam problemas que aos meus olhos parecem simples, mas na verdade não o são. Pequenos pesos, quando carregados por muito tempo, tendem a pesar muito mais. E agora eu já não aguentava dar mais nem um passo... Será que eu deveria abrir mão do meu ego e pedir ajuda?  

Apesar de relutar bastante, tive que pedir a minha namorada que me ajudasse. E aquela história de mostrar a ela a minha capacidade extraordinária de carregar folhas de coqueiro? Bem, tive que admitir que não era nenhum He-Man. Eu era, e ainda sou, alguém cujas forças têm um limite e, se eu não tiver a humildade de admitir isso e pedir ajuda, talvez nunca alcance os meus objetivos. Todos nós precisamos dos outros para alcançar o melhor de nós mesmos.

Às vezes, observo pessoas que parecem não admitir isso. Algumas delas, quando num restaurante, tratam os garçons com arrogância, não sabendo que, sem eles, o alimento não chegaria à mesa. Sem os feirantes, as verduras e carnes não seriam vendidas, e sem os lavradores e pecuaristas, os alimentos não chegariam às feiras. Não somos nada sem os outros. E, naquela ladeira, pude compreender isso melhor.

Com a ajuda da minha futura esposa, pude levar o feixe de folhas até a casa. Foi difícil até para nós dois. Chegamos lá esgotados, mas conseguimos. Não somos nada sem a ajuda dos outros. Portanto, desejo profundamente que meus leitores possam lembrar-se disso, seja numa ladeira, num restaurante ou em um lugar qualquer.

Texto Originalmente publicado no Diário do Sudoeste da Bahia.



domingo, 22 de setembro de 2013

Corujinha corajosa

                                    
Há alguns dias compartilhei no meu perfil do Facebook uma imagem que rendeu alguns comentários. Nela havia uma coruja dando um passo à frente, com uma postura que demonstrava coragem e ousadia. Junto à ave estava escrito: “Se der medo, finge que tem coragem e vai com medo, mesmo.” Decidi tomar isso como uma engraçada filosofia de vida. Ainda mais porque, mesmo sem saber, por várias vezes agi de acordo com essa ideia – como aconteceu quando resolvi vender bolsas femininas.
Um conhecido meu, que vive em Portugal, veio para passar uns dias Brasil. Ele teve a ideia de trazer umas bolsas femininas muito bonitas para vender por aqui, na esperança de obter bons lucros. Porém, esteve muito ocupado e não teve tempo de vendê-las, tendo deixado a maior parte delas aqui quando viajou de volta. Foi então que eu resolvi ser gente-boa e decidi correr pelas lojas para vender as bolsas, como um favor de amigo.
No entanto, acabei me dando conta de que eu não tinha experiência em vendas porta a porta. Daí, foi batendo um medo de não dar certo, de “pagar mico” oferecendo produtos que poderiam não interessar aos lojistas... Fiquei me imaginando sendo ignorado, e que meus potenciais clientes achariam que as bolsas estavam fora de moda, que eles ririam da minha cara.  Comecei a pensar: “Como deve ser difícil ser um vendedor ambulante! Da próxima vez que me oferecerem algo para comprar, vou pensar duas vezes antes de pechinchar tanto...”
Acontece que, mesmo sem saber, acabei agindo como a corujinha. Desliguei as argumentações negativas da minha mente e dei um passo à frente entrando no primeiro estabelecimento (antes disso, fiquei quase uma hora passando em frente às lojas sem coragem de entrar nelas). Independentemente de ter vendido bem ou não, no fim do dia já havia oferecido aquelas bolsas a um bom número de clientes. 
Talvez você tenha algo a fazer que te paralise. Ao pensar nisso, sua mente começa a dizer que não vai dar certo, que vai ser ridículo; mas você sabe que precisa tomar coragem para realizar o que pretende. Acredito que pode ser útil repensar sobre o que seja a coragem. Você acha que precisa ter coragem para andar de bicicleta numa rua tranqüila? Claro que não. Mas uma criança que ainda não aprendeu a andar sobre duas rodas acharia que sim. O que quero dizer é que a coragem só se realiza num ambiente de medo. Ausência de medo não é sinônimo de coragem. Alguém que tenha medo de avião, mas mesmo assim decida voar, este sim pode se considerar corajoso.


No momento em que você for agir, elimine todo pensamento negativo da sua cabeça. Se você já analisou suficientemente a situação, não há por que dar à sua mente a oportunidade de criar alguma impossibilidade. Respire fundo, aperte o botão “Desligar ideias contrárias” e dê o primeiro passo. Martin Luther King Jr. disse: “Suba o primeiro degrau com fé. Você não precisa ver toda a escada. Apenas o primeiro degrau.” Se fingir que é corajoso, vai descobrir que na verdade o é.

Texto originalmente publicado no jornal Diário do Sudoeste da Bahia

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Caminho da eternidade



Existe uma pergunta dentro de todo ser humano que exige uma resposta. Na ciência, procuramos soluções para o envelhecimento, possibilidades de vida longa – melhor ainda se fosse eterna. É como se disséssemos que não nos conformamos com as nossas falibilidades, nossa efemeridade, nossos limites. Os mamíferos detentores de conhecimento e inteligência muito superiores a quaisquer animais, os humanos, parecem ser os únicos insatisfeitos com sua própria condição de mortais. Agimos como se houvéssemos sido feitos para ser eternos. E será que realmente não fomos?

Certa vez, houve um homem que teve infância humilde. Trabalhava desde bem jovem construindo móveis. As pessoas diziam que o seu nascimento fora um milagre. Ele era grato por ter nascido, e tinha um forte senso de missão na vida. Lá pelos seus trinta anos de idade, decidiu cumprir com sua missão: saiu pelas ruas ensinando sua filosofia de vida para as pessoas. Muita gente gostava de ouvi-lo, mas havia um problema: poderosos políticos se sentiam ameaçados por sua popularidade.

Alguns membros da alta sociedade passaram a odiá-lo porque, além de denunciar as falcatruas de pessoas importantes, ele interpretava as leis de uma maneira diferente da que era ensinada pelas faculdades de Direito. Por causa disso, muitos acadêmicos, juízes, advogados e religiosos se tornaram seus inimigos. Mas aquele homem era obstinado: acreditava que sua missão era muito importante e não perdia tempo procurando se proteger. É como se cresse firmemente que o seu destino estivesse traçado.

Ele tinha alguns amigos mais próximos que o acompanhavam e respeitavam muito. Porém, às vezes achavam que ele estivesse enlouquecendo. Isto porque, em alguns momentos, ele dizia que precisava morrer para cumprir com sua missão. Um de seus camaradas mais chegados tentou lhe dissuadir dessas ideias suicidas, certa vez, mas foi asperamente repreendido. Não havia jeito: a obstinação daquele homem era inquebrantável.

Um burburinho crescente se espalhava pelas redondezas. Diziam que os dias do homem que gostava de ensinar nas ruas, cuidar de doentes e denunciar corrupção estavam contados. Aí está o problema de mexer com gente poderosa. De alguma maneira ele sabia disso, mas estava disposto a dar a sua vida para cumprir o propósito que o motivava. Ele sonhava que as pessoas pudessem ter satisfação interior. Ansiava fortemente que qualquer cidadão pudesse ter uma vida normal, porém, com uma certeza dentro de si que fizesse toda a diferença na maneira de lidar com a existência. Esta era sua filosofia: as pessoas são eternas e precisam viver com a consciência de sua eternidade. 

Certa noite, alguns homens armados o cercaram enquanto se reunia com seus amigos num jardim localizado num lado pouco movimentado da cidade. Entre os assaltantes havia policiais e também um rapaz que era sobrinho do religioso mais importante da região. Ele foi espancado e levado pelos homens. Seus amigos até tentaram ajudar, mas, por fim, o abandonaram.

No outro dia pela manhã, num tribunal improvisado, lhe fizeram várias acusações falsas. Seus inimigos queriam vê-lo morto, e o veredicto foi anunciado: cadeira elétrica. Ao fim do dia, seu corpo jazia num cemitério próximo dali. E o que foi de sua missão? Como provar para as pessoas que elas são eternas, sendo que ele mesmo foi morto tão injusta e violentamente?

Acontece que, algum tempo depois, umas mulheres que gostavam de ouvir seus ensinamentos enquanto ele ainda vivia foram visitar seu túmulo. O que viram foi uma cova aberta e um caixão vazio. Assustadas, não sabiam o que fazer. Foi quando ele apareceu pela primeira vez, e conversou com uma delas. Horas depois, apareceu também para aqueles amigos que o tinham abandonado. Ensinou-lhes novamente que as pessoas são eternas. Explicou que sua missão era lutar com a morte e vencê-la, para que, assim, as pessoas pudessem ter certeza de que são capazes de responder aos anseios de eternidade que borbulham em seus corações. Seus amigos finalmente o compreenderam, e nunca mais foram os mesmos. 


Talvez você esteja com aquela sensação de já ter ouvido uma história assim em algum lugar. Saiba que a sua intuição não mentiu. Tudo aconteceu há uns dois mil anos, e não em nossos dias. Mas a mensagem que aquele homem deixou ainda pulsa nos corações daqueles que acreditam nela. Para estes, o Caminho da eternidade foi descortinado. A Verdade está descoberta. A Vida agora faz sentido. E a resposta, só você pode encontrar. (João 14:6).

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Jogo da Vida

Tem sido para mim divertimento
Viver a vida com sabedoria
Andar sempre em boa companhia
Buscar lançar de mim todo o tormento

E ainda que nas curvas desta Estrada
Por algum erro eu venha a ter apertos
Procuro obter o máximo de acertos
Que a vida é jogo de uma só rodada

Não há plano perfeito, a não ser
Usar na hora certa aquelas cartas
Que Deus me deu pra com elas vencer

Não posso vacilar nesta partida
E verdade é que nem sei jogar cartas
Mas tenho aprendido a jogar Vida.




15/11/10

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Lugar chamado Embora

Quero ir a esse lugar chamado Embora
Sei que encontrarei tanta coisa boa
Lá está cada marcante pessoa
Que um dia foi embora da minha história

Mora em Embora a minha bela infância
As minhas amizades juvenis
Meus sonhos impossíveis e a ânsia
Ingênua de ver o mundo feliz

Embora no viver, nesta viagem
Às vezes pense, da turba que avança,
Ser o único esquecido à margem

Para alguém que, por dentro, triste, chora
Talvez eu seja saudosa lembrança
Um antigo habitante de Embora...

23/11/2010