Páginas

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Canção para ninguém ainda

Quando farto de mim mesmo
De minha própria companhia
Você veio alegria
Que absorvi

Absorto em meus pesares
Ilusões e realidades
Dentre tantas inverdades
Te reconheci

Toda hora em que a vida
Mais parece com aquilo
Que chamam felicidade
Você está aqui

Eu que, outrora, tão seguro
De minhas certezas e medos
Ao contato de seus dedos
Me redescobri

Esta nova realidade
De que sou mais eu contigo
Faz-me nem sentir saudade
Saudade de mim

Você é a mais poesia
Das minhas necessidades
O inteiro mais metade
Metade de mim

Essa falta tão intensa
A canção tão verdadeira
A metade mais inteira
Que jamais medi

Você é a mais sensível
Se ressoa o inaudível
A pessoa mais incrível
Que já conheci.

                                               
 23/10/10


sexta-feira, 16 de agosto de 2013

A Falta

Ah, que falta me faz o teu abraço
Quando a Distância, com suas mãos frias
Afasta-nos e me faz ver os dias
Como torturas lentas no espaço!

Ah! Que falta me fazem teus abraços
Se um mal-entendido se apresenta
Entremete-se e arrebata a lenta
Delicadeza doce dos teus braços!

Nas Terras da Saudade, moribundo;
Buscando saúde, contentamento,
Descubro, enfim, que é vã essa procura

Posso até mesmo dar a volta ao mundo
Que só em teu olhar recobro alento
E só em teu abraço encontro cura!

17/11/10

domingo, 11 de agosto de 2013

Velho sonhador adolescente

Tocaste tua guitarra habilmente
Em tantos palcos te apresentaste
Da bandeira da fama foste a haste
E o público gritava à tua frente

Viveste muito mais de mil amores
Na ânsia de viver toda a emoção
Da vida. E entre solos e horrores
A muitos arrancaste admiração

Que há de ti, agora, já cansado
Tendo-te aquela fama abandonado
E levado embora aquela gente?!

Se as melodias que fizeram história
Reverberam apenas na memória
Ó, velho sonhador adolescente?!


13/11/10

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Meu cais

Na imensidão do negro mar, à noite
Meu solitário barco ali desliza
Como esperança, de repente, a brisa
Sopra-lhe as velas de um só açoite

Porém como lembrança, apenas, fica
A força que o moveu naquele instante
Meu barco lento continua errante
Enquanto a minha dor se multiplica

Caminho sem final, caminho extenso
Que trilho sobre o espelho enluarado
Das águas: já não te trilhei demais?

Diga-me, enquanto esta distância venço
(E, às vezes, penso já estar atrasado):
Quando, afinal, encontrarei meu cais?

21/11/2010


segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Preta

Que belo é ver meu mundo enegrecido
Quando te me apresentas docemente
Ofuscando aquela luz dormente
Do tédio de me sentir esquecido!

Qual eclipse que, lento, avança pelas
Montanhas, tu és a noite mais pura
És a lua mais bela, mais escura
E teu sorriso, carreira de estrelas!

Perdido por querer no sol-se-por
Mesmo que eu não queira ser encontrado
Guias-me na direção que preciso

Oriento-me na luz do teu agrado
E se me perco no breu da tua cor
Encontro-me ao brilhar do teu sorriso



Isaac Coelho 13/11/10

sábado, 3 de agosto de 2013

A bênção de estar errado


A Terra é plana. Sim, a despeito de todas as provas científicas, todas as imagens feitas por satélite, todos os astronautas que disseram o contrário, eu tenho certeza que a Terra é plana. Não entendo como ainda existam ignorantes que dizem que ela é redonda.



(Quase posso ver sua cara de interrogação e pasmo!).

Calma.

Não sei como foi que você se sentiu lendo o primeiro parágrafo. Às vezes sinto uma ebulição dentro de mim ao ouvir afirmações equivocadas, assim. Sabe quando alguém diz algo escancaradamente errado? Dá um desconforto dentro do peito, uma vontade de corrigir o engano, de dizer “É claro que a Terra é redonda!” e começar a dissertar sobre a obviedade disso...

Contudo, acontece com muita frequência o contrário. Nós é que estamos cometendo um equívoco. Em algumas ocasiões até aparece um indivíduo inconveniente para nos corrigir na frente de todo mundo. Vexame. A vontade agora é de voltar no tempo e não dizer bobagens! Que chato... Por que não podemos acertar sempre?

Nessas horas, talvez eu devesse me consolar e dizer que “é errando que se aprende”. Porém, seria contestar a minha própria consciência, porque acredito que é acertando que se aprende. Afinal, se você cair em todas as vezes que tentar andar de patins, quando vai aprender?  Em algum momento vai ser preciso acertar. Porém, ainda creio que há algo bom em errar, e quero sugerir, aqui, que estar errado pode ser uma bênção. 

Primeiramente, se eu estou errado, pelo menos estou vivo. Tenho minhas faculdades mentais em bom funcionamento. Afinal, elaborei toda uma argumentação para provar minhas razões – apesar de equivocadas.  Isso demonstra que sou inteligente e tenho capacidade de acertar.

Em segundo lugar, não é desonroso mudar de ideia. E essa mudança somente ocorre quando temos a humildade de reconhecermos o nosso erro. Aferrar-se ao desejo de vencer uma discussão pode até provocar uma boa adrenalina, mas, também, pode separar grandes amigos.

Terceiro lugar: ninguém sabe de tudo. A onisciência é um atributo que não foi concedido aos homens, para o bem deles. Se tivéssemos todo o conhecimento, necessariamente conheceríamos o passado, o futuro e tudo o que poderia ter sido. Seria um tédio insuportável. Sem sabermos de tudo, porém, podemos viver sempre com boas expectativas, como quando se espera por uma festa. Cada dia ainda não vivido pode ser o melhor da nossa vida; cada livro ainda não lido pode proporcionar edificação; cada conhecimento ainda não adquirido pode outorgar o prazer de obtê-lo.

A bênção de estar errado reside em compreender melhor o erro para depois acertar. Se, por acaso, alguém insistir em nos lembrar de todos os erros que já cometemos, saiba que isso não define quem somos. Não importa se você sempre acreditou que a Terra é plana. Seus erros passados são úteis para te empurrar para o primeiro acerto. E o primeiro acerto é o primeiro passo para onde você quer chegar.  

Na nossa existência, não podemos escapar de cometer equívocos. Erramos até quando estamos certos: por exemplo, quando dizemos frases óbvias como “ontem sonhei um sonho”. Porém, se errar é ser ignorante, talvez devêssemos ter orgulho disso. Somos todos ignorantes a respeito de tudo o que não sabemos (Isso é óbvio. Mas algumas frases óbvias dizem umas verdades tão incríveis...).  

Texto originalmente publicado no jornal Diário do Sudoeste da Bahia.