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sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Prioridade de verdade


Segundo um dicionário que consultei, prioridade é aquilo que está em primeiro lugar, ou aquilo que aparece primeiro numa ordem de importância. Mas você já sabia o que é prioridade, não é? Provavelmente perdi meu tempo procurando o significado de uma palavra tão conhecida. Permita-me, porém, discordar dessa hipótese. Prioridade é uma daquelas palavras das quais sabemos o significado, mas agimos como se não soubéssemos. Duvida?

Não poucas vezes flagro a mim mesmo num conflito: quais são as coisas mais importantes da minha vida? Posso pegar uma caneta agora e começar a escrever. Sei que anotarei num caderno os nomes de familiares e amigos, coisas relacionadas ao meu trabalho e projetos futuros, provavelmente nesta ordem. Contudo, quando olho para o meu dia a dia, pode ser que eu não veja essa lista refletida em minhas atitudes.

É bem comum dizermos: “Ah, a minha família é a coisa mais importante da minha vida”. Apesar disso, o tempo de qualidade que dedicamos às pessoas do nosso círculo familiar não corresponde à nossa afirmação. Outras vezes estamos tão preocupados em termos um futuro de sucesso que negligenciamos nosso trabalho, deixando a desejar em nossas atividades. Isso também acontece quando dizemos priorizar nossa espiritualidade, mas não dedicamos tempo algum para desenvolvê-la.

Stephen R. Covey, autor do livro Os 7 Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes, afirma que a melhor maneira de corrigirmos nossas prioridades é colocarmos as coisas mais importantes no lugar mais importante, de verdade.  Ele nos aconselha a identificar (fazer uma lista com) as coisas realmente importantes em nossa vida e nos dedicar a elas, de maneira que aquilo que dizemos possa corresponder ao que fazemos. E isso ocorrerá quando você puder observar suas atividades diárias e perceber que verdadeiramente está se dedicando às coisas que considera importantes – na prática.

Um ponto relevante é procurar não compensar uma prioridade por outra menos importante. Por exemplo: o tempo que os pais devem dedicar aos seus filhos é inestimável. Jamais o nosso trabalho, os presentes que damos aos nossos filhos ou a mensalidade que pagamos da escola poderão substituir os momentos que podemos passar simplesmente nos relacionando com eles. Não podemos conquistar nossos filhos pagando-lhes a faculdade. Nas palavras de Goethe: “As coisas que mais importam não deveriam depender das coisas que importam menos”.

Acho que já deu pra perceber que, muitas vezes, agimos como se não soubéssemos o que é prioridade. “Prioridade é prioridade!” – ouvimos nosso patrão dizer. E ele tem razão. As coisas às quais eu não ofereço minha dedicação não podem ser importantes para mim. E se, porventura, exista uma Pessoa, ou pessoas ou coisas que mereçam nossa dedicação, que comecemos, agora, a agir de acordo com o valor que elas têm. Que possamos, enfim, colocar as coisas mais importantes no lugar mais importante. 


sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Entre vales e montanhas

A vida é uma constante surpresa. Por mais que pensemos que no futuro as coisas sucederão como imaginamos, invariavelmente nos surpreendemos com novas possibilidades se tornando reais. Muitas pessoas reclamam do fato de não saberem o que vai ocorrer, permitindo ser atormentadas por preocupações e pelo medo. Mas o fato é que, não conhecer o futuro é uma dádiva.

Imagine que a vida é uma viagem que você planejou durante anos – uma trilha nas montanhas mais belas que se possa imaginar. Depois de ter analisado previamente todos os guias de viagem, de ter sonhado com os momentos alegres que você viveria, de ter pesquisado na internet todos os lugares legais  que poderia visitar, agora você se encontra com os pés sobre o tão sonhado lugar e a realização do sonho já começou. A vida é assim, com a diferença que não foi você quem planejou a viagem, mas Alguém a preparou com muitas surpresas agradáveis para que você as vivenciasse a cada dia.

Quem gosta de fazer trilhas sabe que o fator surpresa é fundamental para que haja diversão nesse tipo de lazer. Podemos preparar nossa mochila com todos os utensílios necessários, planejar o percurso, mas nunca sabemos de antemão o que irá ocorrer, de verdade. Ainda bem! De outra maneira, como poderíamos sentir a alegria de encontrar um fascinante animal silvestre, uma caverna inexplorada, uma lugar sobre a montanha de onde se possa contemplar um lindo pôr do sol? O Mastercard pode ser útil para muitas coisas, mas essas surpresas não têm preço.

Outrossim, a vida está cheia de coisas boas por acontecer, das quais ainda não temos consciência. Ora, se não fosse assim, não seriam surpresas. Cabe a nós trilhar o nosso caminho, não com preocupações excessivas, mas com uma ardente expectativa pelas coisas maravilhosas que estão prestes a tornar-se reais. E posso afirmar que esse sentimento é muito mais intenso no coração de quem acredita que um certo Agente de viagens preparou tudo com amor, para a nossa felicidade. 

Considerando que já nos encontramos em nossa Viagem, devemos ter consciência de que não podemos escolher outra, mas, sim, tentar fazer com que esta seja a melhor possível. Não podemos viver a vida de outra pessoa. Contudo, é essencial carregar nossa mochila com amor ao próximo, perdão e sabedoria para qualquer eventualidade em nossa trilha.


Muitos vales vão surgir, e vai ser difícil atravessá-los. Não se pode passar para uma montanha mais alta sem se enfrentar o vale. Apesar disso, pode ter certeza, depois de passar pelo vale e ter escalado a montanha, a vista lá de cima vai ser surpreendente, e vai valer a pena.

Publicado no Diário do Sudoeste

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Valorizando pessoas


“O mundo dá voltas”. Com este ditado costuma-se tratar de um fato que ocorre o tempo todo: a mudança. O mundo, as situações e as pessoas mudam, e, muitas vezes, quem um dia se encontrava numa posição elevada, outro dia já precisa da ajuda de alguém para levantar-se. Um sábio dizia: “não há nada de novo debaixo do sol”, e tinha razão. Tudo muda, e nisso não há novidade.


O problema é quando insistimos em pensar que as coisas sempre mudarão para pior, principalmente no que diz respeito a seres humanos. Quantas vezes convivemos com pessoas cujo histórico de mau comportamento nos faz pensar que nunca vão melhorar? Algumas são afetadas pelo alcoolismo, outras por uma rebeldia adolescente; outras, ainda, por uma preguiça patológica. Algumas, até, por uma inabilidade com as finanças que lhes levam sempre à falência. Nossa tendência natural é procurar um culpado: elas mesmas – dizemos –, porque são irresponsáveis e sempre jogam fora as oportunidades. Mas será que não existe nada melhor a fazer do que simplesmente atribuir-lhes a culpa por seus fracassos?

Houve um homem que perdeu cinco eleições e duas disputas para cargos políticos. Um perdedor – alguns diriam. Este mesmo homem faliu duas vezes e teve um colapso nervoso. Finalmente, depois de muita persistência, chegou a ser presidente dos Estados Unidos. Podemos perceber, com isso, que as coisas podem mudar para melhor na vida de alguém, e nós devemos ser os primeiros a acreditar na possibilidade de recuperação dos outros. Esse homem, Abraham Lincoln, percebeu, em sua vida, as voltas que o mundo dá, e o quanto algumas pessoas se mostraram importantes em sua recuperação até a vitória.

O que quero dizer é que devemos valorizar as pessoas quando ninguém mais lhes dá valor. Sei que não é uma comparação perfeita, mas eu poderia dizer que as pessoas são semelhantes a ações de uma empresa. Segundo um dos maiores investidores do mundo, Warren Buffet, o momento certo de comprar as ações de uma organização é quando ninguém mais as quer. Assim, você deposita confiança naquela empresa e compra suas ações, esperançoso de que ela venha a recuperar-se financeiramente. Anos depois, quando as ações se valorizarem, renderão bastante lucro, mas somente para quem arriscou dar-lhes valor quando ninguém queira fazê-lo.

Todos nós conhecemos pessoas que são desprezadas pela sociedade – estão sempre à nossa volta. Talvez elas precisem de uma palavra de incentivo, uma ajuda ou, quem sabe, apenas de um abraço. Portanto, aproveite o momento em que você tem condições de ajudar alguém. O mundo dá voltas, e pode ser que daqui a algum tempo seja você quem precise de um sorriso e um pouquinho de atenção. E, nessa hora, quem você ajudou no passado pode estar num lugar mais alto e com o braço estendido para erguer aquele que um dia lhe valorizou, como ninguém mais o fez.


Texto publicado no Diário do Sudoeste da Bahia

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Raras como diamantes

Todo vendedor que trabalha num ponto comercial costuma ouvir, várias vezes por dia, certa promessa. Digo isso com conhecimento de causa, porque tenho vendido confecções desde a minha adolescência. A promessa é a seguinte: “Depois eu volto aqui”. Acho que vou ter que explicar melhor.

Nós, vendedores, procuramos acordar bem motivados todas as manhãs e prontos para fazer boas vendas. Porém, acontece que muitas pessoas entram em nossa loja, elogiam nossos produtos, às vezes experimentam, depois dizem: “Eu volto aqui depois (para comprar o produto)”, mas nunca voltam. São raras, raríssimas as exceções.  E, quem sabe, até você que agora lê estas linhas já tenha feito isso algumas vezes. Mas qual a importância disso?

Vou chegar lá. Antes, todavia, quero contar a breve história de um rapaz que, estando numa praia com os amigos, resolveu fazer uma brincadeira. Fingiu que estava se afogando, o que fez com que seus amigos tentassem salvá-lo, desesperados. Ele pedia socorro e afundava, até que foi resgatado. Depois de salvo, soltou uma gargalhada e fez gozação das caras de preocupados que seus companheiros fizeram. Os rapazes ficaram muito chateados, pois com isso não se brinca. Porém, logo perdoaram o amigo travesso.

No outro dia, lá estava ele pedindo socorro na água novamente. Só que, desta vez, seus amigos não quiseram ajudá-lo, pois pensaram que ele estava brincando, como no dia anterior. O rapaz, infelizmente, se afogou. Ele realmente precisava de ajuda, mas seus pedidos de socorro não surtiam efeito, pois suas palavras não mais inspiravam confiança.

É uma história um tanto extrema, mas serve para exemplificar a importância de ser responsável no falar. O escritor americano Stephen R. Covey, no seu livro Os 7 Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes, diz que a nossa integridade em relação às nossas palavras é, talvez, o fator mais importante para se alcançar um nível consistente de felicidade. Segundo ele, as pessoas altamente eficazes são responsáveis com os compromissos que contraem, e não culpam as circunstâncias, o clima, ou o que quer que seja por não terem cumprido o que prometeram. Quando dizem “sim”, isto significa realmente um “sim”; e quando dizem “não”, é “não”. Se alguém não acredita que haja alguém assim, é que, possivelmente, esta mesma pessoa não se enquadra nesse padrão.

Talvez, dizer para o vendedor que vai voltar à loja, e não voltar, não seja algo grave. Mas isso pode ser um sinal de que, em outras ocasiões, você possa estar deixando a desejar no que concerne a ser responsável e íntegro com suas palavras. Um bom remédio é buscar criar o hábito de só prometer aquilo que você sabe que poderá cumprir. Os vendedores agradecem; sua felicidade também.


E como é bom lidar, negociar ou conviver com pessoas cujas palavras sejam dignas de confiança, não é mesmo?! Não são fáceis de encontrar – são raras. No entanto os diamantes, se não fossem raros, também não seriam tão valiosos.  

Publicado no Diário do Sudoeste da Bahia

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Força oculta

No livro mais lido e esquadrinhado do mundo há a história de um jovem frágil que encontrou força num dos momentos mais difíceis de sua vida. Ele não tinha sido uma pessoa muito honesta, por isso seu irmão estava irado com ele e pretendia matá-lo. Devido a essa ameaça, Jacó (que, anos depois, teve a felicidade de ter seu nome trocado por um mais bonito) viu-se obrigado a fazer uma longa viagem para ir morar longe de seu irmão e continuar vivo.  

Acontece que, em sua época, não havia Google Mapas nem GPS, para que ele soubesse o caminho. Seus pais lhe deram apenas uma ideia de como se chegar àquela terra distante, e era preciso atravessar desertos perigosos e vales onde habitavam animais selvagens. Se ele pudesse, escolheria não fazer aquela jornada, mas não havia escolha. Era ficar, e ser morto pelo seu irmão, Esaú. Acredito que não foi fácil para Jacó caminhar dias e dias sem ter, muitas vezes, a certeza de estar seguindo na direção certa.

Jacó não tinha um endereço anotado, para onde ele devesse ir. A principal informação que tinha era o nome de um tio que ele não conhecia: Labão (fico imaginando como a mãe dele não conseguiu pensar num nome melhor...). Em todas as vilas pelas quais passava, nosso jovem aventureiro perguntava se por ali morava a família de Labão, porém sempre ouvia um “não, nunca ouvi falar de alguém com esse nome” – e risadinhas. E passavam-se os dias, e Jacó já estava desesperado e sem forças.

Ocorreu que ele caminhava por uma campina, e viu três rebanhos de ovelhas em volta de um poço, sobre o qual havia sido colocada uma pedra. Então Jacó perguntou aos pastores daqueles rebanhos: “Por que vocês não dão de beber às ovelhas? Ainda é pleno dia!” Eles responderam: “Acontece que temos que esperar que todos os outros pastores tragam seus rebanhos. Assim, com a força de vários homens, poderemos remover a pedra que cobre o poço”. Aquilo fazia sentido, mas ele logo pensou que não poderia ajudá-los, porque já estava fraco e cansado demais, e já começava a duvidar se realmente sobreviveria àquela longa viagem.

Estando quase sem fé, e só para não perder o costume, Jacó aproveitou para perguntar aos pastores se eles conheciam Labão. “Sim, conhecemos!” – disseram eles. “E a filha dele, Raquel, também é pastora de ovelhas, e está vindo ali com seu rebanho. Naquele instante, uma forte emoção tomou conta do coração de Jacó. Finalmente encontrava um parente seu, sangue do seu sangue! Não pensou duas vezes e, voltando-se para a pesada pedra sobre o poço, empurrou-a sozinho, tal foi a força que lhe sobreveio naquele momento. Tendo dado de beber ao rebanho de Raquel, foi encontrar seu tio e iniciar uma nova fase em sua vida.

Muitas vezes, em nossa história pessoal, passamos por momentos que mais parecem uma longa e desesperadora viagem, cujo fim não conseguimos enxergar. Nessas horas as nossas forças, que já eram poucas, parecem sumir. Mas ainda há uma força que habita dentro de você, e é tão poderosa quanto as águas que escapam pela fenda de uma represa. Ela está sempre à sua disposição. Contudo, é preciso estar atento aos sinais que ela dá, e eles podem estar num sonho ou no topo de uma escada. Mas a força está lá, e pode ter certeza que ela será poderosa o suficiente para te levar até o fim da jornada.   

Texto publicado no jornal Diário do Sudoeste da Bahia


domingo, 29 de setembro de 2013

Não somos nada sem os outros


 

Certo dia, aproveitei um feriado para ir à roça. Fui com minha namorada e nos divertimos muito fazendo trilhas e subindo morros. Depois de termos caminhado bastante, já estávamos um pouco cansados. Foi quando eu vi o meu pai, que tem 62 anos, carregando um feixe de folhas de coqueiro que ele usaria para construir uma cabana. Então, não sei se por generosidade ou por uma vontade de provar que era forte, me ofereci para carregar aquele feixe de mais de 2m de comprimento. Imaginei que seria fácil – afinal, eram só folhas. Mas foi aí que começou a minha via crucis

A missão era a seguinte: carregar aquele molho de talos de folhas de coqueiro por uma ladeira de meio quilômetro, até chegar à casa mais próxima. Acompanhado de minha namorada, vi naquilo uma oportunidade de mostrar-lhe o quanto ela tinha sorte de ter um homem forte como eu ao seu lado.  Postura de Schwarzenegger, feixe nas costas, lá vou eu passo a passo sob o sol de meio-dia. Não demorou, porém, para eu descobrir que o limite da minha força era bem aquém do que imaginava.

Alguns metros depois do início daquela caminhada, o peso das folhas foi ficando cada vez maior. Estranhamente, o sol parecia mais forte. A ladeira parecia não acabar mais (e olha que eu não tinha percorrido nem um quinto do percurso!). Isso me fez pensar nas pessoas à minha volta que enfrentam problemas que aos meus olhos parecem simples, mas na verdade não o são. Pequenos pesos, quando carregados por muito tempo, tendem a pesar muito mais. E agora eu já não aguentava dar mais nem um passo... Será que eu deveria abrir mão do meu ego e pedir ajuda?  

Apesar de relutar bastante, tive que pedir a minha namorada que me ajudasse. E aquela história de mostrar a ela a minha capacidade extraordinária de carregar folhas de coqueiro? Bem, tive que admitir que não era nenhum He-Man. Eu era, e ainda sou, alguém cujas forças têm um limite e, se eu não tiver a humildade de admitir isso e pedir ajuda, talvez nunca alcance os meus objetivos. Todos nós precisamos dos outros para alcançar o melhor de nós mesmos.

Às vezes, observo pessoas que parecem não admitir isso. Algumas delas, quando num restaurante, tratam os garçons com arrogância, não sabendo que, sem eles, o alimento não chegaria à mesa. Sem os feirantes, as verduras e carnes não seriam vendidas, e sem os lavradores e pecuaristas, os alimentos não chegariam às feiras. Não somos nada sem os outros. E, naquela ladeira, pude compreender isso melhor.

Com a ajuda da minha futura esposa, pude levar o feixe de folhas até a casa. Foi difícil até para nós dois. Chegamos lá esgotados, mas conseguimos. Não somos nada sem a ajuda dos outros. Portanto, desejo profundamente que meus leitores possam lembrar-se disso, seja numa ladeira, num restaurante ou em um lugar qualquer.

Texto Originalmente publicado no Diário do Sudoeste da Bahia.



domingo, 22 de setembro de 2013

Corujinha corajosa

                                    
Há alguns dias compartilhei no meu perfil do Facebook uma imagem que rendeu alguns comentários. Nela havia uma coruja dando um passo à frente, com uma postura que demonstrava coragem e ousadia. Junto à ave estava escrito: “Se der medo, finge que tem coragem e vai com medo, mesmo.” Decidi tomar isso como uma engraçada filosofia de vida. Ainda mais porque, mesmo sem saber, por várias vezes agi de acordo com essa ideia – como aconteceu quando resolvi vender bolsas femininas.
Um conhecido meu, que vive em Portugal, veio para passar uns dias Brasil. Ele teve a ideia de trazer umas bolsas femininas muito bonitas para vender por aqui, na esperança de obter bons lucros. Porém, esteve muito ocupado e não teve tempo de vendê-las, tendo deixado a maior parte delas aqui quando viajou de volta. Foi então que eu resolvi ser gente-boa e decidi correr pelas lojas para vender as bolsas, como um favor de amigo.
No entanto, acabei me dando conta de que eu não tinha experiência em vendas porta a porta. Daí, foi batendo um medo de não dar certo, de “pagar mico” oferecendo produtos que poderiam não interessar aos lojistas... Fiquei me imaginando sendo ignorado, e que meus potenciais clientes achariam que as bolsas estavam fora de moda, que eles ririam da minha cara.  Comecei a pensar: “Como deve ser difícil ser um vendedor ambulante! Da próxima vez que me oferecerem algo para comprar, vou pensar duas vezes antes de pechinchar tanto...”
Acontece que, mesmo sem saber, acabei agindo como a corujinha. Desliguei as argumentações negativas da minha mente e dei um passo à frente entrando no primeiro estabelecimento (antes disso, fiquei quase uma hora passando em frente às lojas sem coragem de entrar nelas). Independentemente de ter vendido bem ou não, no fim do dia já havia oferecido aquelas bolsas a um bom número de clientes. 
Talvez você tenha algo a fazer que te paralise. Ao pensar nisso, sua mente começa a dizer que não vai dar certo, que vai ser ridículo; mas você sabe que precisa tomar coragem para realizar o que pretende. Acredito que pode ser útil repensar sobre o que seja a coragem. Você acha que precisa ter coragem para andar de bicicleta numa rua tranqüila? Claro que não. Mas uma criança que ainda não aprendeu a andar sobre duas rodas acharia que sim. O que quero dizer é que a coragem só se realiza num ambiente de medo. Ausência de medo não é sinônimo de coragem. Alguém que tenha medo de avião, mas mesmo assim decida voar, este sim pode se considerar corajoso.


No momento em que você for agir, elimine todo pensamento negativo da sua cabeça. Se você já analisou suficientemente a situação, não há por que dar à sua mente a oportunidade de criar alguma impossibilidade. Respire fundo, aperte o botão “Desligar ideias contrárias” e dê o primeiro passo. Martin Luther King Jr. disse: “Suba o primeiro degrau com fé. Você não precisa ver toda a escada. Apenas o primeiro degrau.” Se fingir que é corajoso, vai descobrir que na verdade o é.

Texto originalmente publicado no jornal Diário do Sudoeste da Bahia

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Caminho da eternidade



Existe uma pergunta dentro de todo ser humano que exige uma resposta. Na ciência, procuramos soluções para o envelhecimento, possibilidades de vida longa – melhor ainda se fosse eterna. É como se disséssemos que não nos conformamos com as nossas falibilidades, nossa efemeridade, nossos limites. Os mamíferos detentores de conhecimento e inteligência muito superiores a quaisquer animais, os humanos, parecem ser os únicos insatisfeitos com sua própria condição de mortais. Agimos como se houvéssemos sido feitos para ser eternos. E será que realmente não fomos?

Certa vez, houve um homem que teve infância humilde. Trabalhava desde bem jovem construindo móveis. As pessoas diziam que o seu nascimento fora um milagre. Ele era grato por ter nascido, e tinha um forte senso de missão na vida. Lá pelos seus trinta anos de idade, decidiu cumprir com sua missão: saiu pelas ruas ensinando sua filosofia de vida para as pessoas. Muita gente gostava de ouvi-lo, mas havia um problema: poderosos políticos se sentiam ameaçados por sua popularidade.

Alguns membros da alta sociedade passaram a odiá-lo porque, além de denunciar as falcatruas de pessoas importantes, ele interpretava as leis de uma maneira diferente da que era ensinada pelas faculdades de Direito. Por causa disso, muitos acadêmicos, juízes, advogados e religiosos se tornaram seus inimigos. Mas aquele homem era obstinado: acreditava que sua missão era muito importante e não perdia tempo procurando se proteger. É como se cresse firmemente que o seu destino estivesse traçado.

Ele tinha alguns amigos mais próximos que o acompanhavam e respeitavam muito. Porém, às vezes achavam que ele estivesse enlouquecendo. Isto porque, em alguns momentos, ele dizia que precisava morrer para cumprir com sua missão. Um de seus camaradas mais chegados tentou lhe dissuadir dessas ideias suicidas, certa vez, mas foi asperamente repreendido. Não havia jeito: a obstinação daquele homem era inquebrantável.

Um burburinho crescente se espalhava pelas redondezas. Diziam que os dias do homem que gostava de ensinar nas ruas, cuidar de doentes e denunciar corrupção estavam contados. Aí está o problema de mexer com gente poderosa. De alguma maneira ele sabia disso, mas estava disposto a dar a sua vida para cumprir o propósito que o motivava. Ele sonhava que as pessoas pudessem ter satisfação interior. Ansiava fortemente que qualquer cidadão pudesse ter uma vida normal, porém, com uma certeza dentro de si que fizesse toda a diferença na maneira de lidar com a existência. Esta era sua filosofia: as pessoas são eternas e precisam viver com a consciência de sua eternidade. 

Certa noite, alguns homens armados o cercaram enquanto se reunia com seus amigos num jardim localizado num lado pouco movimentado da cidade. Entre os assaltantes havia policiais e também um rapaz que era sobrinho do religioso mais importante da região. Ele foi espancado e levado pelos homens. Seus amigos até tentaram ajudar, mas, por fim, o abandonaram.

No outro dia pela manhã, num tribunal improvisado, lhe fizeram várias acusações falsas. Seus inimigos queriam vê-lo morto, e o veredicto foi anunciado: cadeira elétrica. Ao fim do dia, seu corpo jazia num cemitério próximo dali. E o que foi de sua missão? Como provar para as pessoas que elas são eternas, sendo que ele mesmo foi morto tão injusta e violentamente?

Acontece que, algum tempo depois, umas mulheres que gostavam de ouvir seus ensinamentos enquanto ele ainda vivia foram visitar seu túmulo. O que viram foi uma cova aberta e um caixão vazio. Assustadas, não sabiam o que fazer. Foi quando ele apareceu pela primeira vez, e conversou com uma delas. Horas depois, apareceu também para aqueles amigos que o tinham abandonado. Ensinou-lhes novamente que as pessoas são eternas. Explicou que sua missão era lutar com a morte e vencê-la, para que, assim, as pessoas pudessem ter certeza de que são capazes de responder aos anseios de eternidade que borbulham em seus corações. Seus amigos finalmente o compreenderam, e nunca mais foram os mesmos. 


Talvez você esteja com aquela sensação de já ter ouvido uma história assim em algum lugar. Saiba que a sua intuição não mentiu. Tudo aconteceu há uns dois mil anos, e não em nossos dias. Mas a mensagem que aquele homem deixou ainda pulsa nos corações daqueles que acreditam nela. Para estes, o Caminho da eternidade foi descortinado. A Verdade está descoberta. A Vida agora faz sentido. E a resposta, só você pode encontrar. (João 14:6).

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Jogo da Vida

Tem sido para mim divertimento
Viver a vida com sabedoria
Andar sempre em boa companhia
Buscar lançar de mim todo o tormento

E ainda que nas curvas desta Estrada
Por algum erro eu venha a ter apertos
Procuro obter o máximo de acertos
Que a vida é jogo de uma só rodada

Não há plano perfeito, a não ser
Usar na hora certa aquelas cartas
Que Deus me deu pra com elas vencer

Não posso vacilar nesta partida
E verdade é que nem sei jogar cartas
Mas tenho aprendido a jogar Vida.




15/11/10

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Lugar chamado Embora

Quero ir a esse lugar chamado Embora
Sei que encontrarei tanta coisa boa
Lá está cada marcante pessoa
Que um dia foi embora da minha história

Mora em Embora a minha bela infância
As minhas amizades juvenis
Meus sonhos impossíveis e a ânsia
Ingênua de ver o mundo feliz

Embora no viver, nesta viagem
Às vezes pense, da turba que avança,
Ser o único esquecido à margem

Para alguém que, por dentro, triste, chora
Talvez eu seja saudosa lembrança
Um antigo habitante de Embora...

23/11/2010




quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Canção para ninguém ainda

Quando farto de mim mesmo
De minha própria companhia
Você veio alegria
Que absorvi

Absorto em meus pesares
Ilusões e realidades
Dentre tantas inverdades
Te reconheci

Toda hora em que a vida
Mais parece com aquilo
Que chamam felicidade
Você está aqui

Eu que, outrora, tão seguro
De minhas certezas e medos
Ao contato de seus dedos
Me redescobri

Esta nova realidade
De que sou mais eu contigo
Faz-me nem sentir saudade
Saudade de mim

Você é a mais poesia
Das minhas necessidades
O inteiro mais metade
Metade de mim

Essa falta tão intensa
A canção tão verdadeira
A metade mais inteira
Que jamais medi

Você é a mais sensível
Se ressoa o inaudível
A pessoa mais incrível
Que já conheci.

                                               
 23/10/10


sexta-feira, 16 de agosto de 2013

A Falta

Ah, que falta me faz o teu abraço
Quando a Distância, com suas mãos frias
Afasta-nos e me faz ver os dias
Como torturas lentas no espaço!

Ah! Que falta me fazem teus abraços
Se um mal-entendido se apresenta
Entremete-se e arrebata a lenta
Delicadeza doce dos teus braços!

Nas Terras da Saudade, moribundo;
Buscando saúde, contentamento,
Descubro, enfim, que é vã essa procura

Posso até mesmo dar a volta ao mundo
Que só em teu olhar recobro alento
E só em teu abraço encontro cura!

17/11/10

domingo, 11 de agosto de 2013

Velho sonhador adolescente

Tocaste tua guitarra habilmente
Em tantos palcos te apresentaste
Da bandeira da fama foste a haste
E o público gritava à tua frente

Viveste muito mais de mil amores
Na ânsia de viver toda a emoção
Da vida. E entre solos e horrores
A muitos arrancaste admiração

Que há de ti, agora, já cansado
Tendo-te aquela fama abandonado
E levado embora aquela gente?!

Se as melodias que fizeram história
Reverberam apenas na memória
Ó, velho sonhador adolescente?!


13/11/10

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Meu cais

Na imensidão do negro mar, à noite
Meu solitário barco ali desliza
Como esperança, de repente, a brisa
Sopra-lhe as velas de um só açoite

Porém como lembrança, apenas, fica
A força que o moveu naquele instante
Meu barco lento continua errante
Enquanto a minha dor se multiplica

Caminho sem final, caminho extenso
Que trilho sobre o espelho enluarado
Das águas: já não te trilhei demais?

Diga-me, enquanto esta distância venço
(E, às vezes, penso já estar atrasado):
Quando, afinal, encontrarei meu cais?

21/11/2010


segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Preta

Que belo é ver meu mundo enegrecido
Quando te me apresentas docemente
Ofuscando aquela luz dormente
Do tédio de me sentir esquecido!

Qual eclipse que, lento, avança pelas
Montanhas, tu és a noite mais pura
És a lua mais bela, mais escura
E teu sorriso, carreira de estrelas!

Perdido por querer no sol-se-por
Mesmo que eu não queira ser encontrado
Guias-me na direção que preciso

Oriento-me na luz do teu agrado
E se me perco no breu da tua cor
Encontro-me ao brilhar do teu sorriso



Isaac Coelho 13/11/10

sábado, 3 de agosto de 2013

A bênção de estar errado


A Terra é plana. Sim, a despeito de todas as provas científicas, todas as imagens feitas por satélite, todos os astronautas que disseram o contrário, eu tenho certeza que a Terra é plana. Não entendo como ainda existam ignorantes que dizem que ela é redonda.



(Quase posso ver sua cara de interrogação e pasmo!).

Calma.

Não sei como foi que você se sentiu lendo o primeiro parágrafo. Às vezes sinto uma ebulição dentro de mim ao ouvir afirmações equivocadas, assim. Sabe quando alguém diz algo escancaradamente errado? Dá um desconforto dentro do peito, uma vontade de corrigir o engano, de dizer “É claro que a Terra é redonda!” e começar a dissertar sobre a obviedade disso...

Contudo, acontece com muita frequência o contrário. Nós é que estamos cometendo um equívoco. Em algumas ocasiões até aparece um indivíduo inconveniente para nos corrigir na frente de todo mundo. Vexame. A vontade agora é de voltar no tempo e não dizer bobagens! Que chato... Por que não podemos acertar sempre?

Nessas horas, talvez eu devesse me consolar e dizer que “é errando que se aprende”. Porém, seria contestar a minha própria consciência, porque acredito que é acertando que se aprende. Afinal, se você cair em todas as vezes que tentar andar de patins, quando vai aprender?  Em algum momento vai ser preciso acertar. Porém, ainda creio que há algo bom em errar, e quero sugerir, aqui, que estar errado pode ser uma bênção. 

Primeiramente, se eu estou errado, pelo menos estou vivo. Tenho minhas faculdades mentais em bom funcionamento. Afinal, elaborei toda uma argumentação para provar minhas razões – apesar de equivocadas.  Isso demonstra que sou inteligente e tenho capacidade de acertar.

Em segundo lugar, não é desonroso mudar de ideia. E essa mudança somente ocorre quando temos a humildade de reconhecermos o nosso erro. Aferrar-se ao desejo de vencer uma discussão pode até provocar uma boa adrenalina, mas, também, pode separar grandes amigos.

Terceiro lugar: ninguém sabe de tudo. A onisciência é um atributo que não foi concedido aos homens, para o bem deles. Se tivéssemos todo o conhecimento, necessariamente conheceríamos o passado, o futuro e tudo o que poderia ter sido. Seria um tédio insuportável. Sem sabermos de tudo, porém, podemos viver sempre com boas expectativas, como quando se espera por uma festa. Cada dia ainda não vivido pode ser o melhor da nossa vida; cada livro ainda não lido pode proporcionar edificação; cada conhecimento ainda não adquirido pode outorgar o prazer de obtê-lo.

A bênção de estar errado reside em compreender melhor o erro para depois acertar. Se, por acaso, alguém insistir em nos lembrar de todos os erros que já cometemos, saiba que isso não define quem somos. Não importa se você sempre acreditou que a Terra é plana. Seus erros passados são úteis para te empurrar para o primeiro acerto. E o primeiro acerto é o primeiro passo para onde você quer chegar.  

Na nossa existência, não podemos escapar de cometer equívocos. Erramos até quando estamos certos: por exemplo, quando dizemos frases óbvias como “ontem sonhei um sonho”. Porém, se errar é ser ignorante, talvez devêssemos ter orgulho disso. Somos todos ignorantes a respeito de tudo o que não sabemos (Isso é óbvio. Mas algumas frases óbvias dizem umas verdades tão incríveis...).  

Texto originalmente publicado no jornal Diário do Sudoeste da Bahia.

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Abraço

Ah, eu quero um abraço!
Eu quero um abraço do jeito mais casto, do jeito mais belo
Mais liso, mais simples, sincero, singelo
Anelo um abraço, anelo, anelo
  
Espero que dure, espero que fique em mim um perfume
Espero que sumam aquelas barreiras
Aquelas besteiras que impedem o abraço mais leve, mais lume

Não quero respostas, não quero razões
Só quero um abraço, só quero um norte
Só quero um braço, outro braço, abraço completo, bem-feito
E aquele silêncio mais cheio, mais riso, mais conclusivo
Aquele cheiro, aquele ar, aquela plenitude

Eu quero um abraço
Abaixo o cansaço da seca distância do teu peito
Te abraçar direito, respeito, sem pressa de se afastar
Imaginar que por um instante somos laço
Campo vasto, sem pré ou conceito
Do jeito mais casto, mais perfeito

Só isso... tudo.




06/11/2010

terça-feira, 30 de julho de 2013

Viver ainda

Quero viver, meu Deus, viver ainda
Melhores dias que vivi outrora
Viver a minha juventude infinda
E o belo tempo que se chama Agora

Quero que se prolonguem os meus dias
Mais que as semanas frias da Espera
E bem mais longas sejam as alegrias
Que as tortuosas vias da quimera

Ao sol-nascer sussurrar uma prece
Ser grato pelo céu que entardece
Antes de me deitar, dizer: amém!

Provar mil aventuras pelo mundo
E, quando achar que tenha feito tudo,
Ainda ser o grande amor de alguém!


22/11/2010

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Brincando de bolhas

Já decidi. Vou usar estas linhas para contar um segredo meu, o qual, na verdade, eu gostaria de ocultar. O poeta Fernando Pessoa já dizia que não conhecia ninguém que tivesse a coragem de confessar uma infâmia, mas eu quero ter essa coragem. Antes de contar meu segredo, porém, quero convidar você a refletir um pouco sobre a vida.

Certa vez, há alguns anos atrás, tive que ficar internado num hospital por causa de uma cirurgia. Deu tudo certo, graças a Deus, mas tive que ficar oito dias internado, sem quase nunca poder ver a luz do sol ou caminhar livremente. Quando saí daquele lugar, contudo, pude experimentar sensações que jamais havia sentido: o prazer de ficar sob o sol ao ar livre, a sensação deliciosa de caminhar pelas ruas da minha cidade, a alegria de tomar um banho de chuveiro.

Daí, alguém poderia me perguntar: “Quer dizer que você jamais havia ficado sob o sol, caminhado pela rua ou tomado banho antes de ficar internado nesse hospital? Faz sentido você precisar de internação...” – e aquele sorriso irônico no rosto. Mas, não, não é questão de falta de higiene ou coisa assim. O caso é o seguinte: é claro que eu já havia feito tudo aquilo. Porém, não da maneira com que o fiz depois daqueles oito dias de clausura entre as frias paredes do hospital. Permita-me explicar melhor.

Você certamente já ouviu alguém falar: “A gente só dá valor às coisas quando as perde”. Eu concordo. Antes daqueles oito longos dias, eu jamais tinha pensado no quanto é prazeroso simplesmente ficar sob o sol, até o momento em que isso foi tirado de mim. Na hora do banho, devido à cirurgia, eu não conseguia me levantar do leito. Quão precioso se tornou, naquele momento, um simples banho de chuveiro! E quanto a caminhar por aí? Ah, era o que eu mais desejava...

Caminhadas à parte, acho que já é hora de contar o segredo que prometi no começo deste texto. Promessa é dívida, então lá vai: Eu, em plena fase adulta, gosto de brincar de soprar bolhas de sabão nas horas livres. Sim, confesso, e não posso esconder que sinto um pouco de vergonha enquanto escrevo estas palavras... E sim, é coisa de criança. Pode rir. Mas quando vejo as bolhas surgirem ao meu sopro, tão coloridas e bonitas, isso me faz lembrar de tomar banho e caminhar ao sol...

Essas coisas simples e corriqueiras são como as bolhas de soprar, que num momento aparecem no ar e logo desaparecem. Nós costumamos valorizar apenas os “momentos especiais”, esquecendo-nos de sermos gratos pelos momentos que se repetem todos os dias, mas que são essenciais. Você pode se lembrar com gratidão do dia em que ingressou à universidade, ou do dia do seu casamento, ou mesmo do nascimento do seu primeiro filho. E isso é ótimo. Entretanto, precisa valorizar o seu dia de hoje, ainda que nada extraordinário aconteça. Este dia “normal” que estamos vivendo agora, é feito de tempo, o mesmo material de que é feita nossa vida.


Divirto-me bastante ao fazer bolhas. Ainda mais quando algumas crianças vêm para brincar. Quanto mais elas se alegram, mais bolhas eu faço. A alegria que transmitem enquanto brincam é uma grande lição para mim: jamais quero deixar passar sequer um minuto, ainda que efêmero e corriqueiro, sem tratá-lo como o melhor momento da minha vida. Assim, tenho certeza de que a Vida me soprará muito mais bolhas para eu brincar.  

(Texto originalmente publicado no jornal Diário do Sudoeste da Bahia).

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Respondendo à tempestade

Certa vez, passei por algumas dificuldades na minha vida. Não era um daqueles problemas comuns, como receber baixo salário ou ter vivido uma infância humilde. Digo comuns porque, como brasileiros, sabemos bem o que é isso. Foi uma daquelas fases da vida em que todas as áreas da nossa existência são atingidas por uma crise. Quando isso me aconteceu, a primeira coisa que percebi foi que eu não queria sofrer.


Bem, esta não é uma constatação das mais inteligentes. Afinal, todo mundo sabe que ninguém quer sofrer. Porém, quando a pimenta cai nos nossos olhos, daí nós entendemos, de verdade, o quanto o sofrimento é desagradável. Então, surge a inevitável indagação: Mas porque temos que sofrer? Olha, esta é uma pergunta que procura ser respondida desde que a humanidade habita sobre a Terra. Não me proponho a respondê-la. Mas, como um eventual sofredor que sou, assim como os meus leitores o são, podemos nos solidarizar nestas linhas e tentar obter, não uma resposta, mas uma força, dessas forças que os amigos dão uns aos outros.

Se o sofrimento bateu em sua porta, lembre-se de que todos sofrem, cada um à sua maneira. Isso me recorda as palavras do poeta Francisco Otaviano:

“Quem passou pela vida em branca nuvem,
E em plácido repouso adormeceu;
Quem não sentiu o frio da desgraça;
Quem passou pela vida e não sofreu;
Foi espectro de homem, não foi homem —
Só passou pela vida, não viveu.”

Também é importante lembrar que a dor pode ser útil para alguma coisa. O escritor norte-americano Eckhart Tolle disse em um de seus livros: “Uma das muitas suposições errôneas do ego, um dos seus mais iludidos pensamentos é ‘eu não deveria ter que sofrer’”. Segundo ele, o sofrimento tem um propósito nobre de nos fazer evoluir e reduzir nosso egoísmo. Mas verdade é que algumas pessoas são derrotadas pelos seus problemas. Onde está a evolução, nesses casos?

Muitas vezes, é uma questão de como essas pessoas respondem aos desafios que surgem. Um provérbio bíblico adverte: “Se te mostrares frouxo no dia da angústia, a tua força será pequena”. Qual é a sua reação diante do sofrimento? Será que você diz “eu não deveria estar sofrendo” e espera que as coisas se resolvam sozinhas? Qual reposta você vai oferecer às circunstâncias? Do filósofo grego Epiteto: “Nós não podemos escolher nossas circunstâncias externas, mas podemos sempre escolher como respondemos a elas”.


Se eu tiver que passar pelo dia da angústia, não quero ser frouxo. Sei que as coisas são bem mais difíceis na prática, mas, a melhor resposta para aquilo que não sabemos responder é a coragem. Alguém até já disse que, sem coragem, todas as outras virtudes perdem o seu valor. Saiba que ninguém é importante demais a ponto de não ter que sofrer. E ninguém se torna importante sem ter sofrido. Afinal, que fama teriam os grandes navegadores se não fossem as grandes tempestades?

(Texto originalmente publicado no jornal Diário do Sudoeste da Bahia).

Como é que se diz?

Lembro-me quando eu era criança. Assim que ganhava um presente de algum adulto, a única coisa que eu queria era abrir o embrulho e ir brincar. Mas, quando já estava com o brinquedo nas mãos e começava a dar as costas para quem tinha me presenteado, vinha minha mãe e dizia: “como é que se diz?” Então, meio a contragosto, sem entender muito bem para que servia dizer aquilo, eu me virava para a pessoa que me presenteara e dizia: “obrigado”, e logo corria para desfrutar do meu novo tesouro.

Quem jamais passou por isso? E quem também nunca se sentiu satisfeito com a demonstração de gratidão de uma criança com o brinquedo que lhe compramos? A gratidão faz isso: traz satisfação a quem faz o bem, ao mesmo tempo em que abre o caminho para o recebedor ser agraciado mais uma vez com alguma dádiva. Afinal, é às pessoas mais gratas que nos sentimos mais propensos a beneficiar.

Entretanto, às vezes penso que a gratidão verdadeira tem se mostrado rara em nossa sociedade. Tenho notado que as pessoas têm dito “obrigado” cada vez mais, porém de maneira um tanto automática, mecânica.  O agradecimento tornou-se um gesto obrigatório para demonstrar que somos civilizados, e apenas isso. Talvez porque, quando crianças, nossos pais nos ensinassem apenas a dizer“obrigado”, e não a sentir.

Um pastor alemão (não o cachorro!) chamado Dietrich Bonhoeffer disse, certa vez: “É somente com a gratidão que a vida se torna rica”. Com isso, podemos entender que uma pessoa pode até ter coisas que façam com que outros lhe chamem “rica”, mas, se ela não é agradecida por todas as dádivas que recebeu, essa riqueza é uma ilusão. Digo isto porque a gratidão é irmã gêmea da satisfação. Ora, se você não é grato pelo que tem, logo não é satisfeito, é infeliz. Mas quem é grato é infinitamente rico, pois tem todo o universo à sua disposição.

Não basta dizer “obrigado”, ou “agradecido” ou “valeu, mesmo!”. Lembre-se de você quando criança: aquela alegria transbordante; a vontade de correr só de prazer por ter ganhado um carrinho ou uma boneca... Palavra alguma pode traduzir corretamente esse sentimento, mas encontraram uma para nomeá-lo: gratidão. E nós não fazemos ideia do que esse sentimento é capaz de trazer.

Você pode se imaginar como uma criança agora mesmo: a saúde, o alimento sobre a mesa, as roupas que você usa e o ar que respira são dádivas que todos os dias um Adulto te oferece. A esse Adulto alguns chamam de Vida, outros de Universo; eu chamo de Deus. Saiba que o seu sorriso é o maior incentivo para que Ele sinta-se ainda mais motivado a te agraciar com múltiplas bênçãos.

E a partir de hoje, quando a Vida entregar em suas mãos um lindo embrulho (e ela faz isso todos os dias), lembre-se de sentir-se intensamente satisfeito e sorrir. E quando o seu coração estiver transbordando de gratidão, diga “obrigado”. É assim que se diz. 


(Texto originalmente publicado no jornal Diário do Sudoeste da Bahia).